Nos dias 22 e 23 de Janeiro, teve lugar a reunião
anual dos coordenadores dos Centros do Grupo UNIJES – Ética das Profissões,
estrutura que congrega todas as Instituições de Ensino Superior da Companhia de
Jesus em Espanha, a que a Faculdade de Filosofia de Braga está associada. A
reunião deste ano decorreu no Campus de Sevilha da nova Universidade da Companhia
de Jesus, Universidad Loyola Andaluzia
(http://www.uloyola.es/), cuja actividade
docente se iniciou há dois anos. Para além do Campus de Sevilha, a Universidade
tem um outro em Córdoba.
A Faculdade de Filosofia de Braga participa nestas
reuniões desde 2001, tendo sido responsável pela reunião anual de 2004, que
decorreu nos dias 28 e 29 de Janeiro. Aproveitando a vinda a Braga de vários
especialistas em Ética Empresarial, foi organizado na ocasião um Seminário
Luso-Espanhol de Ética Empresarial subordinado ao tema: “Ética como Instrumento de Gestão”, cujas comunicações foram publicadas na Brotéria.
Cristianismo e Cultura. 159(2004),
fasc. 5.
O Grupo UNIJES – Ética das Profissões (na altura COCESU
(Coordinadora de Centros
de Ensino Superior de la Companhia de
Jesus en Espanha), foi fundado há mais de 15 anos, precisamente porque
os responsáveis pelo ensino superior da Companhia de Jesus em Espanha consideraram
que a Ética é fundamental na formação formal e informal do ser humano,
especificamente na formação que visa a actividade profissional. Ou seja, muito
antes de a crise que o mundo atravessa vir à superfície, aqueles responsáveis
aperceberam-se de que a Ética é fundamental para o ser humano e organizaram a
sua leccionação nas suas instituições de ensino superior. Como diz Adela
Cortina num dos seus recentes livros, Para
que sirve la Ética? (Barcelona: Paidós, 2013), a ética é fundamental pelo
menos por duas razões: porque faz parte da estrutura do seu humano, e porque é
inteligente tirar o melhor partido dessa dimensão, uma vez que sem ela não há
justiça nem felicidade. Como a autora diz, numa linguagem provocadora: é mais
barato ser ético do que não ser; sem confiança, virtude ética, a vida torna-se
impossível. E ao olhar para o mundo, tem de se concordar com a grande filósofa
espanhola. Ou seja os responsáveis da Companhia de Jesus anteciparam-se na
procura de caminhos que evitem as dificuldades que hoje são bem patentes.
Esta consciência levou à decisão de criar unidades
curriculares de Ética em todas as licenciaturas, mestrados e doutoramentos
ministrados nas Instituições de Ensino Superior da Companhia de Jesus em
Espanha, universidades, como Deusto, Comillas e Loyola Andaluzia, e outras instituições
de ensino superior, como ESADE (Escuela Superior de Administración y Dirección de
Empresas - http://www.esade.edu/web/eng) e IQS (Institut Quimic de Sarrià - http://www.iqs.edu/es/), em Barcelona; INEA (Escuela Técnica de Ingeniería Agrícola -
http://www.inea.org/), em Valladolid, entre
outras.
O grupo inicialmente trabalhou a formação dos
professores de Ética de cada centro (são os professores do chamado Círculo 2; o
Círculo 1 é composto pelos coordenadores dos diversos centros) e dos
professores das outras unidades curriculares dos diversos cursos, designado
Círculo 3, porque não há actividade docente nem unidades curriculares
axiologicamente neutras.
Para além desta actividade, o Grupo tem publicado ao
longo dos anos vários volumes de ética das profissões. O Primeiro volume da
colecção (Ética de las Profesiones. Desclée De Brouwer) tem por título Temas Básicos de Ética e o segundo, Ética General de las Profesiones, de que
há uma tradução brasileira. Os restantes volumes tratam da ética de profissões
em áreas específicas, como: a ética da responsabilidade empresarial, do trabalho
social, de enfermagem, da ajuda humanitária, dos tradutores, das finanças, da
economia, da vida pública, do turismo, dos professores, das profissões jurídicas,
etc.
No nosso país esta área da ética das profissões tem
sido pouco trabalhada e certas instâncias reagem com estranheza às propostas da
sua introdução nos Curricula. A razão
deste modo de proceder nem sempre é claro. Às vezes parece que esta reacção se
deve ao facto de se considerar que a Ética não é ensinável, ou se tem ou não se
tem; outras vezes parece que a reacção contra a introdução da Ética nos cursos
resulta de se considerar que a ética é uma questão meramente pessoal e,
consequentemente, cada um tem a sua. Ora a Ética é o conjunto de valores,
princípios e normas que permite a convivência humana, pelo que não é meramente
individual, mas tem uma dimensão social, e é indispensável à vida em comum.
Isto torna-se particularmente evidente quando nos deparamos com situações de
que ela está ausente. Há, contudo, alguns sinais de que pouco a pouco se vai
descobrindo a necessidade de incluir nos cursos o ensino da Ética, o que
permite acalentar alguma esperança de que a sua leccionação se vá generalizando,
para bem de cada um e da sociedade em geral.
José Henrique Silveira de Brito (Representante
da FacFil no Grupo UNIJES)
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