terça-feira, 24 de março de 2015

Filosofia e Design

O Curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia da UCP - Braga, através do docente Carlos Morais, participou na 1ª Feira de Oferta Educativa e Formativa da Universidade do Minho, no Parque de Exposições de Braga, no dia 13 de março de 2015.
Em boa hora a UM e outras entidades organizaram a referida feira, de grande importância e oportunidade, desde logo pelo contributo que ela proporcionou a quem tem de tomar a decisão na escolha do percurso formativo a seguir, como é o caso dos jovens que pretendem aceder ao ensino superior universitário e politécnico, ou outro.
Nesta Feira participaram dezenas de escolas de todos os graus de ensino, bem como outras instituições dedicadas ao ensino e à formação. Entre elas, também a Universidade Católica. Eram muitos os visitantes, alunos aos magotes, provenientes de muitos agrupamentos de escolas e que pululavam entre os expositores das diversas instituições e as distintas iniciativas que decorriam mais ou menos em simultâneo dentro do Parque, num misto de diversão e curiosidade.
De lamentar, apenas, o facto de um conjunto de Atividades programadas para o “Espaço Informa(te)”, entre as quais se encontrava a que tínhamos preparado, não se terem podido realizar nas melhores condições. De facto, sendo um espaço totalmente aberto, um ponto de passagem sem nenhuma sinalética que permitisse identificar o local como espaço de apresentação de propostas e de debate, exposto às ondas sonoras que cruzavam o pavilhão em todos os sentidos, imediatamente percebemos que não poderíamos apresentar, naquelas condições, o assunto que havíamos preparado. Por isso, aqui fica a nossa sugestão para que, numa próxima edição da Feira, os responsáveis insiram tais Atividades no outro espaço existente, o “Espaço Auditório”, este sim, um espaço mais reservado e para o qual os interessados se dirigem já com um outro registo, e numa atitude mental muito diferente.
De qualquer modo, a apresentação que pretendíamos expor e constituir em momento de diálogo, versava a relação entre dois domínios aparentemente pertencentes a realidades bem longínquas uma da outra: a Filosofia e o Design. Mais precisamente, pretendíamos evidenciar o que no Design se constitui como problema filosófico, e por outro lado, em que consiste e para que serve um olhar filosófico sobre o Design. Um assunto atual, pertinente, que ocupa já um bom número de publicações editadas entre nós, e que mostraria certamente a singularidade e a “mais-valia” de uma formação em Design num ambiente filosófico, como é o Curso de Design existente na Faculdade de Filosofia de Braga. Um caso único em Portugal.
Para quem se interesse por este assunto, aqui fica o esquema que havíamos preparado para a nossa exposição:
1. O design como ponto de convergência de realidades múltiplas:
         Técnica, Economia, Social, Ética, Política, Estética, Antropológica, Epistemológica, Cultural, Histórica.
2. O design requer uma análise e compreensão global
3. A Filosofia: lugar da interceção e entrecruzamento
          Interdisciplinaridade - Horizonte de “totalidade” - Radicalidade de questionamento além do “já dado” - Perspetiva crítica de um questionar permanente
4. Finalidade de uma filosofia do design:
         Construção de uma síntese coerente – Articulação de todos os ângulos do objeto/problema que é o design
5. A questão da “natureza” do design (o que é o design? O que o constitui? Que estatuto? Que “identidade”?)
          Uma atividade - Um valor - Uma poiésis/criação - Uma fruição/experiência - Uma arte - Um consumo - Uma técnica - Um desejo - Um projeto - Uma mercadoria
6. A questão da(s) linguagem(s) do design:
          A tecnicidade - A funcionalidade - A denotação - A conotação - A linguagem “estética”: um espaço-tempo plástico e global - Símbolos e metáforas.
7. Questão ética
          O que se produz no design; Por que é que se produz o que se produz; Para quem se produz; Quem produz; Que impacto (na sociedade, no ambiente, no indivíduo…)
8. Questão estética
          O esteticidade da técnica; A dimensão artística do design; A experiência estética do design; A beleza do design.
9. Questão cultural e política
          O design como catalisador do “capitalismo estético”; Os perigos da estetização generalizada; Que “divindade” serve o design?
10. Moral da história
          O designer e o sentido da sua atividade.
          O “consumidor” e a atitude esclarecida e crítica perante o sistema da produção.

Citação de referência:
Gilles Lipovetsky e Jean Serroy:
 «O estilo, a beleza, a mobilização dos gostos e das sensibilidades impõem-se cada vez mais como imperativos estratégicos das marcas: é um modo de produção estética que define o capitalismo do hiperconsumo. Nas indústrias do consumo, o design, a moda, a publicidade, a decoração, o cinema, o show business criam em massa produtos plenos de sedução, veiculam afetos e sensibilidade, construindo um universo estético prolífico e heterogéneo pelo ecletismo dos estilos que se desenvolvem». (O capitalismo estético na era da globalização, p.16)

Texto publicado no Jornal "Diário do Minho", 06 de maio de 2015

Carlos Morais

Sem comentários:

Enviar um comentário