segunda-feira, 30 de março de 2015

"Liberdade e Escolha" e "Filosofia com Humor"

Comunicações realizadas pelo docente da FacFil, Artur Ilharco Galvão.

> Comunicação:A Liberdade é um Estado Muito Apreciado na Sociedade Civilizada: A Importância da Filosofia e o Problema da Escolha” - apresentada na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa, na Comemoração do Dia Mundial da Filosofia - 20 de Novembro de 2014:

Na famosa ‘cena do tribunal’ dos Monty Python (Monty Python’s Flying Circus, S.01, E.03), o arguido, antes da leitura da sentença, apela ao juiz para não ser privado da liberdade. Por um lado, porque tem mulher e seis filhos; por outro, e o mais importante de tudo, porque “a liberdade é um estado muito apreciado na sociedade civilizada”. Partindo deste mote lança-se num discurso laudatório da liberdade, designando-a por “mensageira da felicidade” e considerando-a “tão preciosa, quanto um bálsamo abençoado”, para concluir enfaticamente com a pergunta-resposta: “A que deusa o marinheiro assustado pela tempestade oferece as orações mais impetuosas? À liberdade! Liberdade. Liberdade”. Tamanha exaltação poderá deixar-nos facilmente perplexos e conduzir-nos à ideia de que o arguido procura um meio para comover o juiz e, desse modo, garantir uma pena leve para um crime aparentemente hediondo. Contudo, e tratando-se dos Monty Python, a punch line da rábula é, inevitavelmente, desconcertante. O crime em questão não passa de uma simples multa de trânsito. A trama estende-se com a chamada de testemunhas tão estranhas quanto a Sra. Fiona Lewis, o falecido Arthur Aldridge e o cardeal Richelieu.
O grande mérito dos Monty Python reside no facto de mostrarem - através da sátira dos truísmos, estereótipos e maneirismo sociais - como por vezes falhamos em alcançar a independência de pensamento e, ao seguirmos a maré, acabarmos por ficar enredados nos nossos pré-conceitos. Nesse sentido, desafiam-nos a repensar as nossas ideias e as nossas vidas. No sketch em análise, para além de nos fornecerem um momento de plena surrealidade e humor, recordam-nos a importância e o valor da liberdade. A possibilidade desta ser esquecida, subvalorizada ou negada merece uma reflexão filosófica, quer para a sua compreensão quer para o seu exercício.
Esta comunicação focou, precisamente, a reflexão filosófica acerca da liberdade, mais especificamente o problema da escolha e como esta pode ser paradoxal. Nesse sentido, a reflexão, dividiu-se em duas partes. Na primeira, tendo em conta o público-alvo, alunos do 11º ano, analisou-se a temática filosófica a partir da questão: “Quão boa poderá ser a filosofia?”. Defendeu-se que a filosofia vai muito além de uma actividade intelectual ou de um assunto de uma disciplina, constituindo-se uma forma de vida ou uma prática de lidar criticamente com os nossos limites e incertezas. Enquanto esforço de contribuir para a construção de uma vida humana mais plena, a filosofia exorta-nos a ter a coragem de pensar por nós mesmos. Na segunda parte, explorou-se o problema da liberdade a partir dos resultados de questionários previamente preenchidos pelos alunos. Seguindo-se a abordagem da teoria do paradoxo da escolha, proposta pelo psicólogo Barry Schwartz, traçaram-se os perfis dos alunos enquanto ‘maximizadores’ ou ‘satisfazedores’. Concluiu-se procurando demonstrar-se como a filosofia contribui, mediante o desenvolvimento do raciocínio e da sabedoria prática, para lidar com os aspectos positivos e negativos de cada um dos perfis. 


> Comunicação: “Filosofia com Humor” - apresentada na Escola Secundária D. Sancho I, Vila Nova de Famalicão, em 18 de Novembro de 2014, a convite da Associação Portuguesa de Ética e Filosofia Prática.

Esta comunicação teve por objectivo argumentar contra a ideia, por vezes recorrente, de que a filosofia é uma actividade marcadamente abstrusa, maçuda e tristonha. Uma ideia antiga e da qual Aristófanes (c. 446-396 a.C.) já dava conta na sua peça cómica As Nuvens. Aí apresenta-nos uma imagem da filosofia e do filósofo como vivendo nas nuvens, desligado do mundo real e tomando por grandes problemas as questões acerca do comprimento do salto das pulgas ou da identificação da extremidade pela qual zumbem os mosquitos. Aristófanes poderá (aparentemente) ter razão quando afirma que por vezes os filósofos parecem habitar as nuvens e dedicarem-se a questões tão técnicas cujo interesse e utilidade parece ser inexistente (pelo menos para o público em geral). Porém, estava errado. As ideias produzidas pelos filósofos não ficam nas nuvens. Basta recordar que se as revoluções mudaram e mudam o mundo, começaram na cabeça mas não ficaram aí.
Aristófanes oferece-nos um excelente ponto de partida para pensarmos a ligação entre a filosofia e o humor. Particularmente a ideia de que os dois campos, o filosófico e o humorístico, não são contraditórios nem incompatíveis, antes pelo contrário. Conforme recorda B. Russell “todo o acto de inteligência é um acto de humor”. A filosofia não constitui excepção.
A comunicação estruturou-se em dois momentos. No primeiro, apresentaram-se alguns apontamentos humorísticos da vida de alguns filósofos para desconstruir a ideia do filósofo carrancudo e de mal com a vida. No segundo, partiu-se do sketch “reunião da Frente Popular” dos Monty Pythons (A Vida de Brian) para responder à questão: “Afinal o que fizeram os filósofos por nós?”. 

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